Quando do meu regresso, prematuro, de há quase dois anos atrás, não fazia eu ainda ideia de que teria de esperar mais este tempo todo até tornar a vir aqui publicar mais alguma coisa...
Passou o tempo, e muitas coisas mudaram!...Regressei à minha Terra Lusa, de onde parti há algum tempo, e de onde acabei por estar ausente durante 22 anos. Mas voltei, como disse que voltaría um dia!...
Há quem me pergunte o que me fez voltar, e eu não posso deixar de o dizer sem sorrir...O Sol, foi o Sol, digo eu, e o facto de poder comer peixe fresco, e criar um quintal!...
Quanto à crise económica, que aparentemente é mundial, tenho algumas coisas a dizer. Esta "crise económica", como lhe chamam, já não é realmente uma crise, mas a nova situação "normalizada" do mundo (considerando aqui que "normal" é o ciclo da máquina de lavar roupa). Assim, de uma forma ou de outra, todos fomos afectados por esta alteração económica no mundo, e não tenciono aqui vir alguma vez discutir essa situação. Este não é um blogue político, se bem que se venha em breve a discutir aqui algumas questões da economia global que podem pôr em questão a nossa sobrevivência como espécie humana...
Mas voltando a este meu regresso e aos comentários variados que oiço, assim como as opiniões de tantos outros acerca disso, gostaria de deixar aqui ficar esclarecidas umas quantas coisas, e voltando à criese económica e à preocupação sincera de algumas pessoas que me dizem que esta é uma época terrívelmente difícil para regressar a Portugal, eu gostaria de os assegurar que nós já temos uma crise económica há mais de 900 anos!...e pouco mudou de lá para cá!...Sempre existiu uma crise, e agora não é realmente diferente.
Depois, uma vez que regressei no dia 25 de Abril de 2010 (sim, foi de propósito), e já passaram três meses, devo dizer que o Portugal que encontrei não é realmente diferente do Portugal que deixei há 22 anos (Desculpem a sinceridade, mas isto não mudou nada na essência ou na burocracia!...Houve sim umas pequenas mudanças tecnológicas, mas o espírito manteve-se inabalável, abençoados Portugueses!...e parece que o futebol ainda reina nesta terra!...). Mas apesar disso, é óbvio que sou obrigado a reconhecer que tenho de me re-adaptar ao novo-velho sistema. Tudo bem, não me queixo porque nunca fui de me queixar nestas coisas.
Houve porém algumas experiências durante o meu periodo de ausência que me permitem olhar para este nosso cantinho de terra com outros olhos. Para já, acredito firmemente que se todos os Portugueses trabalhássem aqui como trabalham quando vão para outros países, estaríamos provavelmente a liderar a Europa, e talvez o mundo!...Não sei se é o clima, o calor, ou outra coisa qualquer que ainda não consegui determinar, mas isto continua a funcionar a meia haste, se compreendem o que quero dizer. As famosas duas velocidades: devagar e parado. Por um lado, talvez seja a nossa salvação, ou a nossa arma contra o stress, mas a verdade é que vejo já o stress a invadir as famílias portuguesas da mesma maneira que o vi infiltrar todas as casas norte-americanas. E já agora, aparentemente o stress não veio sózinho, e trouxe a porcaria das comidas embaladas e de plástico!!!...Meus queridos compatriotas lusitanos, nós temos comidinha tão boa aqui, para quê importar o lixo de plástico de outras civilizações aparentemente "desenvolvidas" quando na verdade já falharam redondamente e se limitam apenas a iludir os outros?...
E já agora vamos pegar no fio desta meada e desenvolver aqui uma teoria pequena...Temos um clima fantástico, como há poucos no mundo. Podemos produzir cerca de quatro colheitas de vegetais por ano, temos uma terra riquíssima, e formas de a cultivar e enriquecer com extratos orgânicos...e andamos a importar comida fictícia dos outros lados porquê?...Não respondam!...eu sei!...não há tempo para cozinhar, custa mais a produzir do que a importar, etc, etc, etc...
Então é assim, eu voltei para Portugal por causa do Sol, do bom clima, e da boa alimentação. E continúo a trabalhar, e estou muito satisfeito por ter voltado, mas francamente, peço a todos que acordem, ou acordem os vizinhos, e cheirem as flores!...Nós estamos no paraíso, aqui!...Com um bocadinho de esforço, o mesmo esforço com que somos conhecidos pelo mundo fora, e por tudo o que fizemos ou que declarámos ter feito, com ou sem descobertas, com ou sem mapas roubados, com ou sem dinheiro, ou com o dinheiro dos outros, vamos lá deixar o Sebastião para trás (Não volta, acreditem!...Morreu mesmo!...) e começar a levantar este país de novo, está bem?...Para eu poder escrever País, em vez de país. Isto não precisa só de uma reforma política e económica, isto precisa de uma revolução social, de um levantamento real de novos valores que defendam e ajudem a tornar este cantinho num paraíso exemplar de economias sustentáveis, ecológicamente limpas e baseada num trabalho e num esforço unitário, comunitário, e positivo!...
Já chega de culpar os outros, ou o patrão, ou os vizinhos, ou o governo, ou o passado histórico!...Temos de aprender a pensar de uma forma nova!...Nada disto é idealístico, mas possível!...Só depende de nós!...Façamos da nossa voz e das nossas acções o exemplo para um novo mundo mais sustentável e gratificante. Isto não pode ser assim tão difícil, porra!...(Desculpem-me o palavrão, mas este saíu mesmo assim).
Em primeiro ligar, é necessário aceitarmos que só é possível concretizar planos se trabalharmos todos juntos, e para isso teremos de ter a necessidade de confiar num plano. Depois é importante reconhecer que quem elege governos somos nós, e que dessa forma só poderemos ser governados por um grupo de pessoas em quem confiamos, e que essas pessoas são humanas como nós!...Assim como os elegemos, também os podemos substituir, se assim for necessário, claro!...Ao mesmo tempo, é importante compreendermos que para fazer uma decisão inteligente é necessário sabermos o que queremos e ter assim ideias muito bem definidas da forma como desejamos ser governados. Não é necessário re-inventar a roda...
Pouco tempo depois de ter aqui chegado, ouvia uma conversa de mesa de restaurante (pronto, era uma tasca, e já nem sei onde...) acerca de uma ASAE, que eu na altura nem sabia o que era, e então a conversa ía assim, "Sabem porque é que existe a ASAE?...", e houve uma pausa seguida de um silêncio curto, "...porque Portugal não tem uma ETA!...". Eu nem me lembro o que é que pensei na altura, porque não fazia a miníma ideia do que era a ASAE, mas lembrei-me logo da Gestapo, ou da PIDE...Lagarto, lagarto, lagarto!...Ainda hoje não sei muito bem do que se trata, mas sei que muita gente tem muito medo...Mas não é com medo que se governa!...Acho que tivémos já bastantes anos de experiência nesse campo, lembram-se?...blink, blink (estes ínglesísmos dão muito jeito, ás vezes...). Mas eu disse que não queria falar de política, e não quero mesmo!...Só quero falar de cultura, das artes, e das condições sociais que nos rodeiam e nos afectam. Falemos pois de consciência social, da obrigação colectiva de acordarmos todos e decidir comandar o nosso destino, em vez de sermos dirigidos sem consciência, ou por hábito!...
Pronto, penso que há uma necessidade de parar aqui mesmo...Voltei, e desejo crescer neste meu Portugal maravilhoso, cheio de Sol e boa terra, com estradas sénicas maravilhosas, aldeias e cidades de encantar e regalar o olho, salpicadas de história e de histórias, algumas com monumentos a documentar isso tudo, mas ainda minada de um borburinho um tanto ou quanto carpideiro que se está sempre a queixar que isto está mau!...Se está mau muda-se, porra!...Temos é que trabalhar todos, e juntos!...Vejam lá a história de outros sítios e de como algumas civilizações se levantaram das cinzas?...Não confundam é oportunidade com oportunísmo!...Isto só anda para a frente com trabalho, e trabalhar cansa, e nem sempre é fácil, ouviram?...Mas também se fosse tudo fácil, garanto-lhes que não valia a pena...e eu sei do que estou a falar!...E já agora, a distracção do futebol não vai resolver os nossos problemas...já averiguei a possibilidade e não me parece ser muito viável à excepção de quem é mesmo muito bom naquilo!...Como o meu avô dizia, não podemos todos ser médicos, caramba!...
Aqueles que se atreverem a ler este meu desabafo, que me perdoem a honestidade, ou algum erro gramatical...Eu tenho-me desculpado assim, que apesar de ser Português, passei 22 anos fora daqui, e não foi esta a minha língua durante muito tempo...ainda estou a aprender a falar e a escrever o meu português outra vez...
Abraços e até breve!